Suck Here
06 abril, 2011
Brandalism
04 fevereiro, 2010
O maior problema em viajar no tempo
"The major problem is quite simply one of grammar, and the main work to consult in this matter is Dr Dan Streetmentioner's Time Traveller's Handbook of 1001 Tense Formations. It will tell you for instance how to describe something that was about to happen to you in the past before you avoided it by time-jumping forward two days in order to avoid it. The event will be described differently according to whether you are talking about it from the standpoint of your own natural time, from a time in the further future, or a time in the further past and is further complicated by the possibility of conducting conversations whilst you are actually travelling from one time to another with the intention of becoming your own father or mother."
- Retirado do capítulo 15 de The restaurant at the end of the universe
31 janeiro, 2010
Jean-Paul Marat
14 dezembro, 2009
Uma frase de H. L. Menckel
06 agosto, 2009
Juramento Ateísta
05 julho, 2009
A cópula (por Manuel Bandeira)
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e tungescente.
Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinente,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente
Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra
E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona a dentro o mangalho até o cabo.
28 março, 2009
Ressentimento e fascismo
A recente publicação no Passa Palavra de um artigo sobre a actuação de Miguel Cadilhe durante a crise do Banco Português de Negócios deixou-me apreensivo, tanto mais que esse estilo de denúncias se tornou habitual nos meios de esquerda e de extrema-esquerda. Por isso valerá talvez a pena esmiuçar as suas implicações.
Apresentar como promíscua a relação entre o Estado e os negócios é considerar anómalo algo que constitui precisamente uma das componentes estruturais do capitalismo. Pretende-se assim que seja excepção aquilo que na verdade é uma regra, e desta maneira considera-se implicitamente que poderia existir um outro capitalismo, não perverso, em que o Estado seria imune aos negócios. Artigos deste tipo só confundem em vez de esclarecer.
Desde as primeiras décadas do século XIX, quando começaram a formular-se as críticas ao capitalismo na perspectiva da classe trabalhadora, um dos temas em que mais se insistiu foi na ligação dos meios políticos aos meios económicos − mais do que isso, na estreita interdependência de ambos. Depois, e malgrado tudo o que as separava, tanto a vertente marxista como a vertente anarquista, cada uma à sua maneira, insistiram naquela íntima relação. Numa época em que as grandes massas pobres estavam afastadas do voto e, por maioria de razão, dos cargos políticos, os próprios defensores do Estado burguês tinham de admitir que governantes e homens de negócios não andavam muito longe. Tudo o que esses apologistas então pretendiam era que o poder político mantivesse uma certa imparcialidade entre os vários grupos de interesses, para que não fossem só uns os beneficiados, e o rotativismo partidário assegurava que os grupos se revezassem de maneira a que todos se fossem aproveitando da intervenção económica propiciada pelos governos.
Mais tarde, já no século XX, quando a tecnocracia e os grandes administradores passaram a dominar os governos e sobretudo os bastidores da política, começou a difundir-se a ideia não de que os governos seriam imunes às pressões económicas mas exactamente do contrário, de que eles seriam imunes às pressões políticas. Se a burguesia legitima os seus lucros mediante os títulos jurídicos da propriedade privada, os tecnocratas e, em geral, os gestores legitimam-nos mediante o mito da sua competência técnica. A partir de então os governos passaram a ser encarados na mesma óptica gestorial em que se encara a economia. Um bom governo deveria ser gerido como uma boa empresa, e a palavra «político» passou a carregar o sentido pejorativo que ainda hoje conserva.
Quem não gostou nada desta mudança foram os pequenos patrões, os donos das fabriquetas, das oficinas, os merceeiros [donos de sacolões] da esquina, os agricultores suficientemente abastados para assalariar alguma mão-de-obra e produzir para o mercado, mas sem terras bastantes nem capacidade suficiente para aplicarem no cultivo os métodos mais modernos e produtivos. Foi esta gente que começou a denunciar o favoritismo económico dos governantes, não porque se opusessem em princípio à relação da política com a economia, mas porque pretendiam ser eles a beneficiar dessa relação. Nas décadas de 1920 e de 1930, na Europa, em alguns países da Ásia e nas duas Américas, esta insatisfação dos pequenos patrões foi uma das principais componentes do fascismo. Não constituiu o único factor, houve outros igualmente importantes, mas o fascismo nunca se afirmou sem aquela componente. E desde então, onde o rancor dos pequenos patrões existe, o fascismo não anda longe.
Em termos sociológicos, o que estes pequenos patrões pretendiam e pretendem é atacar os governos não numa perspectiva de luta de classes mas numa perspectiva de mobilidade de elites. Trata-se, para eles, de manter a estrutura económica existente, desde que ascendam dentro dessa estrutura e passem a incluir-se entre o escol dominante. Ora, esta situação agravou-se nas últimas décadas.
Um dos aspectos mais marcantes do capitalismo contemporâneo é o facto de a concentração do capital, que se acelerou no plano económico, onde atingiu níveis nunca antes alcançados, ter apresentado no plano jurídico uma fisionomia inversa, levando à fragmentação das antigas grandes companhias da era do fordismo. Vivemos numa época em que a generalização das relações de subcontratação e de terceirização atrelou às grandes empresas uma miríade de pequenos patrões. Por um lado, na medida em que estão inteiramente dependentes do mercado de produtos e de serviços constituído pelas grandes empresas que os subcontratam, os pequenos patrões têm de lhes obedecer e de seguir os seus ditames. Mas, por outro lado, este agravamento da subserviência estimula os rancores. É nestes meios sociais que proliferam as denúncias sobre as benesses que grandes capitalistas e altos gestores obtêm dos governos, e a indignação vem-lhes não do facto de o capitalismo existir, mas do facto de não conseguirem aproveitar-se dele, pelo menos tanto como desejariam.
Não devemos desprezar a capacidade mobilizadora que estes pequenos patrões exercem relativamente à classe trabalhadora. Muitos deles estão unidos por elos familiares tanto aos velhos meios operários como aos novos proletários saídos de cursos superiores e que, apesar disso, não encontram senão empregos precários. Outros desses pequenos patrões são antigos operários que conseguiram juntar um pecúlio e instalar-se como pequenos empresários, e mantêm relações familiares e sociais com o seu meio de origem.
Numa época em que, perante a concentração transnacional do grande capital, os trabalhadores se encontram fragmentados, quando foram em boa medida dissolvidas as suas antigas relações de solidariedade e atenuado ou extinto o seu sentimento de classe, mais fácil se torna que eles encontrem nos pequenos patrões os leaders ou os modelos. No plano ideológico e psicológico, trata-se de substituir o espírito de classe pelo ressentimento, ou seja, o desejo de acabar com o capitalismo pela aspiração de subir dentro do capitalismo. O fascismo, na face que apresentou às massas populares, foi exactamente isto.
Aquele tipo de denúncias de que o artigo sobre Miguel Cadilhe e o Banco Português de Negócios constitui um exemplo reflecte a atitude dos pequenos patrões, que se sentem sistematicamente defraudados pelos grandes capitalistas na distribuição da mais-valia, ou seja, na partilha dos lucros. As remunerações elevadas, em dinheiro ou em benesses, de que beneficiam os altos gestores diz unicamente respeito à distribuição da mais-valia entre os capitalistas, não à exploração da mais-valia, ou seja, trata-se da repartição dos resultados da exploração, dos lucros, e não do processo de exploração. Por isso, é um assunto que diz estritamente respeito aos capitalistas, não aos anticapitalistas. Também não vejo o interesse em arranjar três bodes expiatórios em vez de dois, ou quatro em vez de três, e indagações deste tipo resultam da própria noção de que por detrás dos acidentes do capitalismo estariam culpados individuais, como se fosse uma questão de pessoas e não de um sistema económico. Quanto aos subsídios concedidos pelos governos aos bancos, já me pronunciei a este respeito no artigo Perpectivas do capitalismo na actual crise económica, publicado neste site. Mas é curioso que a esquerda continue a pregar uma política idêntica à que foi aplicada pela direita conservadora norte-americana na sequência da crise de 1929 e que levou a falências bancárias em cadeia e ao agravamento catastrófico da situação económica, até que o New Deal e a segunda guerra mundial conseguissem inverter a situação. Uma vez mais prevalece aqui o ressentimento, ou mesmo a simples inveja, a ideia de que todos aqueles subsídios seriam mais úteis no meu bolso do que no activo dos bancos. Só que eu não desempenho no conjunto do sistema económico a função desempenhada pelos estabelecimentos financeiros.
Lamento muito dizê-lo, e sem querer ser desagradável para com as pessoas que escrevem aquele tipo de artigos e com as que gostam de os ler, recordo que eles eram a especialidade da imprensa de extrema-direita no período entre as duas guerras mundiais. Já antes disso, desde os últimos anos do século XIX, o jornal da Action Française, o partido monárquico de extrema-direita que se situou na génese de todo o fascismo francês, fizera dessas denúncias a sua prerrogativa, inaugurando um modelo que muitos seguiram e tentaram superar. Em França, foi a denunciar a promiscuidade estabelecida entre os governantes e os negócios que os fascistas se reorganizaram após a segunda guerra mundial e o mesmo tema serve hoje à extrema-direita russa para proceder à apologia do fascismo e de Stalin. Na época actual, no entanto, parece-me que é na Grã-Bretanha que mais plenamente vigora o modelo de uma grande imprensa de massas ao mesmo tempo de extrema-direita e dedicada a publicitar os escândalos entre os ricos. Esta imprensa britânica de massas é uma componente indispensável da vida política no país, mais importante no plano ideológico do que o são o governo e os partidos.
Proliferou por todos os países este tipo de imprensa de massas, situada politicamente na direita ou na extrema-direita e sempre pronta a anunciar que um político foi encontrado com a mão no cofre de um banco ou que um empresário foi encontrado com a mão na gaveta de um ministro. Basta olhar para os escaparates [as bancas] de jornais e ver quais são os mais lidos. Em íntima conexão com esta imprensa dos escândalos e do ressentimento, estão as revistas inevitavelmente colocadas ao lado dos chocolatinhos junto às caixas dos supermercados e que se destinam a mostrar ao povo os exemplos positivos, que em princípio todos gostariam de imitar, as vedetas de sucesso, os homens de negócios que casaram pela enésima vez com uma mulher ainda mais plastificada do que as anteriores, os chics e famosos, os habitantes das ilhas artificiais. Se uns são os jornais do ressentimento, as outras são as revistas da inveja, e juntos fazem um par indispensável à contenção dos rancores dentro dos limites da ordem. Desde que a insatisfação não leve ao derrube das instituições mas à vontade de amaranhar por elas acima, tudo corre dentro do previsto. Onde as coisas começam a estragar-se é quando a juventude lança fogo a automóveis em vez de comprar revistas sobre carros de luxo.
Que artigos como este que suscitou a minha reflexão se tenham difundido entre a esquerda e a extrema-esquerda revela até que nível lastimável decaiu o que noutra época havia sido o anticapitalismo. Em Portugal a situação é mais grave ainda, por razões próprias à história deste país. Durante o período do antifascismo, o Partido Comunista seguiu a política da «unidade dos portugueses honrados contra o punhado de monopolistas ao serviço do capital estrangeiro», e continua aliás hoje a fazer o mesmo, visto que nunca desistiu da sua ambição histórica de pôr a classe trabalhadora à disposição de sectores capitalistas − tanto donos de empresas como gestores − marginalizados na repartição dos lucros. É natural que neste ambiente prolifere a confusão entre espírito de classe e ressentimento. Mas sempre que o ressentimento prolifera entre os trabalhadores, o risco do fascismo não anda longe.
[Ilustrações - pinturas de Peter Bruegel, o Velho, e uma colagem de Raoul Hausmann.]
08 março, 2009
Exército Industrial de Reserva?
20 novembro, 2008
Assim rasteja a humanidade (a crise dos alimentos)
Por Renato Prata Biar
30 agosto, 2008
É meio duvidoso que tornar a propaganda política no Brasil mais divertida faça nascer a democracia. É fácil pensar num homem que "pensa pela própria razão", mas daí para ele tomar decisões políticas inteligentes é outr história. Para usa a expressão de Bauman, Política, com p grande, está fora de moda. O individualismo desconstruiu o saber político público. Talvez só nos reste, nestas bandas brasílicas, a diversão.
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Alegria & Política – por que não?
de Paulo Ghiraldelli Jr.
A idéia de que a TV é antes de tudo entretenimento não desaparece quando o assunto é política e eleições. Assim é nos Estados Unidos. A festa da democracia americana é também a festa do eleitor que, não raro, se diverte com os vários programas de política. Lá, ninguém está preocupado em fazer da política algo sério a ponto de ficar sisudo. Confia-se na maturidade do eleitor, tendo ele maturidade ou não. Esse é o princípio iluminista, posto de forma emblemática pelo filósofo Immanuel Kant – “pensar pela própria razão” é o que distingue o homem que “saiu da menoridade”.
A democracia é um regime para os que saíram da menoridade.
Quando nós, brasileiros, voltamos à democracia, em 1985, esse também era o espírito da nossa propaganda eleitoral. As eleições e a política em geral eram algo para a formação cívica, para a educação democrática. A política pela TV e pelo jornal impresso eram a “escola de adultos”. Todavia, continuavam a ser TV e jornal – antes de tudo, deveriam ser atrativos. O lema funcionava mais ou menos assim: se é para aparecer na TV, que seja no espírito televisivo. A imprensa escrita tinha outras possibilidades, mas não deixou também de seguir esse caminho.
Os grandes bonecos, as imagens entortadas, as imagens de comícios (reais) e os debates com pouca censura – tudo isso deu vida à política. Os jornais impressos passaram até a ter o “humorismo político” de volta. Ninguém votou “enganado” por conta disso. Ao contrario! Sendo mais atrativos, os programas políticos na TV estimulavam o eleitor a voltar a assisti-los e, a partir disso, ter mais vontade de conhecer os candidatos e partidos. Lembro bem como que os bonecões dos candidatos eram adorados por todos, e como que simulando debates se tornavam um ponto de atenção válido, chamando o homem comum para ficar diante da TV no horário eleitoral.
Mas, no Brasil, o que é criativo e bom dura pouco. Alguns entre nós acham que o Brasil não é sério, e ficam tentando tornar mais o sério o que não precisa disso. Todo mundo que quer fazer isso, deixa de ser sério, passa a ser a caricatura do sério, que é o sisudo, o chato. E nome da seriedade, fomos criando leis de coerção da propaganda eleitoral e política. Nada de bonecos, nada de distorção de imagem e som, nada de cenas externas, nada disso e nada daquilo. Deu no que deu: a propaganda eleitoral tornou-se insuportável. Às vezes penso que aquela propaganda eleitoral permitida no tempo do regime militar dava mais asas à imaginação e ao entretenimento que a atual. E tudo que dá asas à imaginação provoca a curiosidade e, no limite, se torna mais capaz de gerar mais informação – o que é fundamental na democracia.
A legislação que regra a atividade política na TV foi construída, nesses últimos vinte anos, ao sabor do prejuízo do partido alheio, e não em benefício do expectador e do eleitor. Cada peça de lei foi feita por um político para prejudicar o partido adversário. O resultado não foi a melhoria da política na TV, e sim o que aí está, temos uma democracia que, na TV, se tornou rapidamente um tédio. Tudo é feito para que o político, uma vez na TV, “apresente propostas” e “não faça show”, e o que temos é o show, só que de péssima qualidade, já que tudo é proibido.
A maioria dos países democráticos faz questão de apresentar na TV, na hora da política, o que há de melhor para se colocar na TV. Não se pode imaginar TV sem audiência. Todo tipo de jogo, brincadeira e coisa capaz de fazer a política se mostrar como uma parte do “mundo das celebridades” é algo bem visto nas grandes democracias do mundo ocidental. É claro que isso depende da cultura do país. Mas ninguém chega ao ponto da imbecilidade de nossa propaganda política, que se transformou em alguma coisa que expulsa o que é o principal na propaganda: aquele que assiste.
Não há motivos para o cerceamento que temos em nossa propaganda política. Uma vez liberada, nossa propaganda fortaleceria uma indústria de entretenimento voltada para a política, uma indústria lucrativa e geradora de empregos. Ao mesmo tempo, geraria um eleitor mais envolvido e mais sagaz. Pois é visível que na época dos bonecões imitando candidatos, na TV, nosso grau de informação era bem maior. E a população gosta disso. Tanto é que, na Internet, os sites de charges de política ou de pequenos “clips” com brincadeiras com a política são muito procurados. Tudo isso é colocado de lado. Justamente na TV, onde tudo é feito de modo a se ganhar dinheiro, na política o horário eleitoral é feito para se perder dinheiro e perder audiência. É algo realmente irracional.
Está na hora dos políticos não temerem os bonecões, as charges, a piada. Essa coisa de político se fingir de sisudo para impor respeito é algo que não casa com a voracidade com que alguns deles se dirigiram ao “mensalão”. Então, os políticos honestos deveriam fazer voltar à TV a sua capacidade de tornar a política alguma coisa que realmente ela é: algo vital para nossa vida democrática.
Se a política na TV se torna algo chato, não custa começarmos a acreditar que toda essa atividade é mero adorno, um tédio que não sabemos sua razão de existência. Ao contrário do que muitos imaginam, não temos a tendência de descartar algo por ele ser engraçado e divertido. Nem descartamos algo que é muito dolorido. O que é entediante é o primeiro candidato ao plano do descartável. E é isso que fizemos com nossa política na TV: ela parece ser descartável. Péssimo sinal.
Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, http://ghiraldelli.pro.br e http://paulo.ghiraldelli.pro.